As abelhas sem ferrão, além de serem produtoras de mel de alta qualidade, desempenham um papel crucial na polinização de diversas plantas, contribuindo significativamente para a manutenção da biodiversidade e para a agricultura. No entanto, práticas urbanas de controle de vetores, como a aplicação de inseticidas por meio do fumacê, têm colocado essas abelhas em risco, causando preocupações entre meliponicultores e ambientalistas.
O Fumacê e Seus Impactos nas Abelhas Sem Ferrão
O fumacê é uma técnica utilizada para combater mosquitos, especialmente o Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya. Consiste na dispersão de inseticidas em forma de fumaça, visando atingir os mosquitos adultos em áreas urbanas. Embora eficaz no controle desses vetores, o fumacê não é seletivo, afetando também outros insetos benéficos, incluindo as abelhas sem ferrão.
Relatos de meliponicultores indicam perdas significativas de colmeias após a aplicação do fumacê nas proximidades de seus apiários. Em João Pessoa, Paraíba, o meliponicultor Marcos Júnior relatou a perda de aproximadamente 20 a 30 mil abelhas, cerca de 10% de sua criação, após a passagem do carro fumacê em seu bairro. Com cerca de 100 colônias, totalizando aproximadamente 200 mil abelhas, Marcos destacou o impacto econômico significativo, considerando que o mel de abelhas sem ferrão pode alcançar valores de até R$ 1.400 por litro devido à sua produção limitada e alto valor agregado.
Aspectos Químicos e Toxicológicos
Os inseticidas utilizados no fumacê, embora direcionados ao controle de mosquitos, não discriminam entre espécies-alvo e não-alvo. Abelhas expostas a esses químicos podem sofrer intoxicação aguda, levando à morte imediata, ou acumular resíduos tóxicos em seus organismos, resultando em efeitos subletais que comprometem a saúde da colônia a longo prazo. Estudos indicam que mesmo exposições subletais podem afetar o comportamento, a reprodução e a longevidade das abelhas.
Medidas Mitigatórias e Boas Práticas
Para minimizar os impactos negativos do fumacê sobre as abelhas sem ferrão, algumas medidas podem ser adotadas:
Comunicação Efetiva: Meliponicultores devem ser informados previamente sobre o cronograma de aplicação do fumacê em suas regiões. Em João Pessoa, a Gerência de Vigilância Ambiental e Zoonoses disponibiliza o contato para informações sobre o itinerário do fumacê. G1
Ajuste de Horários: A aplicação do fumacê em horários noturnos, quando as abelhas estão abrigadas nas colmeias, pode reduzir a exposição direta aos inseticidas. Essa prática requer coordenação entre autoridades de saúde e meliponicultores.
Proteção Física das Colmeias: Cobrir as colmeias durante a aplicação do fumacê ou deslocá-las temporariamente para locais seguros são estratégias que podem ser implementadas para proteger as abelhas. No entanto, essas medidas demandam planejamento e recursos adicionais por parte dos criadores.
Iniciativas e Políticas Públicas
Algumas regiões têm buscado soluções para conciliar o controle de vetores urbanos com a proteção das abelhas. No Espírito Santo, por exemplo, iniciativas de convivência pacífica entre o fumacê e as abelhas estão em desenvolvimento, visando minimizar os impactos ambientais negativos.
A proteção das abelhas sem ferrão é fundamental para a preservação da biodiversidade e para a sustentabilidade da agricultura. Embora o fumacê seja uma ferramenta importante no controle de doenças transmitidas por mosquitos, é crucial que sua aplicação seja realizada de forma consciente e integrada, considerando os impactos sobre outras espécies benéficas. A colaboração entre autoridades de saúde, meliponicultores e a sociedade em geral é essencial para desenvolver estratégias que equilibrem a saúde pública e a conservação ambiental.