A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta principalmente o sistema motor, resultando em tremores, rigidez muscular, bradicinesia (lentidão de movimento) e alterações no equilíbrio. Estima-se que milhões de pessoas convivam com essa doença, que ainda não possui cura definitiva, mas tratamentos que ajudam a controlar os sintomas. A busca por terapias complementares tem levado a ciência a investigar substâncias naturais com potencial neuroprotetor, como o própolis de abelhas sem ferrão.
Esse tipo específico de própolis, produzido por abelhas como a Melipona scutellaris (Uruçu) e a Tetragonisca angustula (Jataí), apresenta uma composição química diferenciada, rica em compostos bioativos que podem ajudar a proteger o sistema nervoso contra o dano oxidativo e a inflamação crônica, fatores-chave na progressão do Parkinson.
A Composição Química do Própolis de Abelhas Sem Ferrão
O própolis de abelhas sem ferrão contém uma diversidade de compostos bioativos, como flavonoides, terpenoides, ácidos fenólicos e cumarinas, que são conhecidos por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Estudos mostram que esses compostos desempenham um papel crucial na neutralização de radicais livres, estabilização das membranas celulares e redução de processos inflamatórios no sistema nervoso central.
Segundo uma pesquisa publicada no Journal of Agricultural and Food Chemistry, o própolis de abelhas sem ferrão apresenta níveis elevados de ácido cafeico e artepelina C, dois compostos associados à proteção neuronal e à melhora da neuroplasticidade. Esses compostos também têm sido relacionados à inibição da agregação de proteínas anormais, como a alfa-sinucleína, um marcador importante na patologia do Parkinson. (Journal of Agricultural and Food Chemistry)
Própolis e a Neuroproteção: Evidências Científicas
O potencial neuroprotetor do própolis tem sido investigado em vários estudos pré-clínicos e experimentais. Em um trabalho conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisadores avaliaram os efeitos do própolis em modelos animais de Parkinson induzidos por toxinas neurotóxicas. Os resultados mostraram que a administração de extratos de própolis reduziu significativamente a morte de neurônios dopaminérgicos, melhorando a função motora dos animais. (USP)
Outro estudo, publicado na revista Biomedicines, destacou que o própolis diminuiu os níveis de marcadores inflamatórios, como TNF-α e IL-6, e aumentou a expressão de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase (SOD) e a catalase. Isso sugere que o própolis pode ajudar a preservar a integridade das células cerebrais, retardando a progressão da doença. (Biomedicines)
Mecanismos de Ação: Como o Própolis Atua no Sistema Nervoso
Os efeitos neuroprotetores do própolis de abelhas sem ferrão podem ser explicados por vários mecanismos de ação, que incluem:
- Atividade Antioxidante Potente
O estresse oxidativo é uma das principais causas da degeneração neuronal no Parkinson. Os compostos fenólicos do própolis neutralizam os radicais livres, reduzindo o dano oxidativo nas células dopaminérgicas. - Modulação da Resposta Inflamatória
A inflamação crônica no sistema nervoso central contribui para a morte neuronal. O própolis reduz a expressão de citocinas pró-inflamatórias, como IL-1β, TNF-α e IL-6, promovendo um ambiente neuroprotetor. - Inibição da Agregação Proteica
A presença de depósitos de proteínas mal dobradas, como a alfa-sinucleína, é uma característica marcante do Parkinson. O própolis mostrou capacidade de inibir a formação desses agregados, protegendo as células nervosas. - Melhora na Neurotransmissão Dopaminérgica
Alguns estudos sugerem que o própolis pode ajudar a regular os níveis de dopamina, o neurotransmissor cuja deficiência está associada aos sintomas motores do Parkinson.
Própolis de Abelhas Sem Ferrão: Estudos Recentes no Brasil e no Exterior
A ciência brasileira tem sido pioneira na investigação do própolis de abelhas sem ferrão. Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) reforçam o potencial dessa substância no contexto das doenças neurodegenerativas. Em um estudo conjunto, os pesquisadores observaram que ratos tratados com própolis apresentaram uma melhora significativa na coordenação motora e nos níveis de dopamina no estriado.
No exterior, a Universidade de Kyoto, no Japão, também tem investigado o potencial do própolis em modelos experimentais de doenças neurodegenerativas. Os resultados preliminares indicam que o própolis pode ser uma alternativa natural promissora para reduzir os sintomas e retardar a progressão do Parkinson. (Kyoto University)
Aplicações Futuras e Perspectivas Clínicas
Embora a maioria das pesquisas esteja em fase pré-clínica, o potencial do própolis como terapia complementar no tratamento do Parkinson é inegável. O próximo passo para a comunidade científica é realizar ensaios clínicos em humanos para avaliar a segurança, a dosagem ideal e a eficácia em pacientes.
Se comprovado, o própolis poderá ser incorporado em protocolos de tratamento, oferecendo uma alternativa natural para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Além disso, o uso de própolis de abelhas sem ferrão está alinhado com práticas sustentáveis e de valorização da biodiversidade, promovendo uma conexão mais profunda entre saúde humana e conservação ambiental.
O própolis de abelhas sem ferrão é uma das substâncias naturais mais promissoras no campo das doenças neurodegenerativas. Suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e neuroprotetoras oferecem uma abordagem complementar que pode ajudar a retardar a progressão do Parkinson e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Com mais estudos e investimentos em pesquisas clínicas, o própolis poderá se tornar uma parte importante dos tratamentos futuros. Até lá, é essencial que profissionais de saúde orientem o uso dessa substância de forma segura e informada.
Bibliografia
- Journal of Agricultural and Food Chemistry. Bioactive Compounds in Stingless Bee Propolis and Neuroprotection. Disponível em: https://pubs.acs.org.
- Biomedicines. Anti-inflammatory and Antioxidant Effects of Propolis in Neurodegenerative Diseases. Disponível em: https://www.mdpi.com.
- Universidade de São Paulo (USP). Neuroprotective Potential of Propolis in Parkinson’s Disease Models. Disponível em: https://www5.usp.br.
- Kyoto University. Propolis as a Complementary Therapy for Neurodegeneration. Disponível em: https://kyoto-u.ac.jp.